1 - Caracterização Territorial
1.2 - Meio Ambiente
Descrevem-se nesta seção, sucintamente, alguns aspectos referentes às características ambientais do Estado do Ceará. Em termos físicos, o Ceará detêm aproximadamente 93% de seu território inserido na região do semiárido nordestino, o que o torna vulnerável aos fenômenos da seca, caracterizada principalmente pela irregularidade têmporo-espacial e escassez pluviométrica em determinados períodos do ano, na qual, é potencializado seu efeito pelas altas taxas de evaporação/evapotranspiração.
Sob o ponto de vista geoambiental, constata-se que, além das vulnerabilidades impostas pela irregularidade pluviométrica do semiárido, parte muito significativa dos solos apresentam-se degradada ou em estágios avançados de desertificação. Os recursos hídricos superficiais e subterrâneos tendem para a insuficiência ou se exibem com níveis comprometedores de poluição. De tal modo que esse problema se agrava na área do bioma da caatinga, tendo em vista que a deficiência dos recursos hídricos se constitui como um dos principais empecilhos para a ocupação humana e para a satisfação das necessidades das atividades do meio rural.
Com base em uma estrutura geológica complexa, decorrente da consolidação de blocos desde o Pré-Cambriano e com falhamentos orientados em geral para o Nordeste, é a partir do Jurássico Superior que os eventos diastróficos se fizeram sentir mais acentuadamente na morfologia. Os fatores estruturais têm relação direta com as macroestruturas em nível de escudos do embasamento cristalino e de bacias sedimentares. Conforme citado na publicação do Atlas do Ceará de 1995 realizada pela Fundação Instituto de Planejamento do Ceará (IPLANCE) as rochas cristalinas ocupam uma área que corresponde a cerca de 85% da área do Estado. Sob esse ponto de vista é possível à identificação das seguintes Unidades Geoambientais no Estado do Ceará, tais como: Tabuleiros Interiores; Planície Flúvio-Marinha; Chapada do Apodi; Chapada do Araripe; Glacis de Acumulação; Planalto da Ibiapaba; Planície Litorânea; Planície Ribeirinha; Serras Secas; Serras Úmidas; Sertão Ocidental Ibiapaba; Sertão Centro Ocidental; Sertão Pré-Litorâneo e Sertão Sul Ocidental.
Com base na Compartimentação Geoambiental, alguns aspectos fundamentais podem ser salientados: há uma evidente preponderância espacial dos sistemas e sub-sistemas ambientais (geossistemas e geofácies, respectivamente) localizados nas superfícies sertanejas; os sertões são macro-compartimentos submetidos a climas semi-áridos secos ou sub-úmidos, com superfícies pediplanadas escalonadas, densas rede hidrográfica dotadas de rios intermitentes sazonais, solos rasos e muito diversificados, extensivamente recobertos por caatingas que apresentam diferentes estágios de degradação e/ou conservação; os enclaves úmidos e sub-úmidos das serras pré-litorâneas, constituem subespaços de exceção no contexto do semiárido. Tratam-se de superfícies topograficamente elevadas ou de frentes de cuestas submetidas às influências de mesoclimas de altitude. São áreas que apresentam condições ambientais e de recursos naturais potencialmente melhores; recobrimento vegetal, exceto nos enclaves úmidos e no litoral, revela significativa preponderância das caatingas, que ostentam variados padrões fisionômicos e florísticos; os sistemas e sub-sistemas ambientais derivados da auto-organização da biosfera em um ambiente físico, praticamente já não existem, em função do processo histórico de uso e ocupação da terra e da exploração predatória dos recursos naturais renováveis (FUNCEME, 2009).
Em termos de relevo, o Ceará comporta características dependentes da influência de um conjunto de fatores, nos quais as condições geológico-ambientais, paleoclimáticas e a atual dinâmica geomorfogenética são as mais destacáveis. Abriga em seu território regiões de baixa, média e alta altitudes, conforme pode ser visualizado nos mapas concernente a Hipsometria e Modelo Digital de Elevação – MDE. O ponto de maior altitude no Estado refere-se ao Pico da Serra Branca com 1.154 metros, seguido do Pico Alto de Guaramiranga (1.112 metros), Pico Alto de Santa Quitéria (1.085 metros), Morro do Coquinho de Itapajé (1.081 metros) e o Morro do Coquinho de Meruoca com 1.020 metros. Vale salientar que é evidente, em consequência do modelado do relevo, uma série de fatores naturais e econômicos que são diretamente afetados por essa e outras particularidades da delimitação geomorfólogica.
O conhecimento dos solos é de grande importância para o desenvolvimento de várias atividades, em especial as ligadas à agricultura, mas também os programas de experimentação agrícola, os projetos de irrigação, as iniciativas de conservação de solos, os programas de reforma agrária, entre outros. No que tange à ocorrência dos tipos de solos, o Estado do Ceará possui três tipos preponderantes, sendo o de maior ocorrência os solos do tipo Neossolos com cerca de 53.525,5 km² ou 35,96% da área do Estado. O segundo tipo de solos com maior ocorrência são os Argissolos com 36.720,6 km² ou 24,67% e o terceiro refere-se aos Luvissolos com 16,72% da área total do Estado ou 24.885,6 km².
As características principais dos solos mencionados anteriormente são: os Neossolos em geral, são solos originados de depósitos arenosos, apresentando textura de areia ou areia franca ao longo de pelo menos 2 metros de profundidade. Esses solos são constituídos essencialmente de grãos de quartzo, sendo, por conseguinte, praticamente destituídos de minerais primários pouco resistentes ao intemperismo. O teor máximo de argila chega a 15%, quando o silte está ausente; os Argissolos são solos minerais, não-hidromórficos, com horizonte A ou E (horizonte de perda de argila, ferro ou matéria orgânica, de coloração clara) seguido de horizonte B textural, com nítida diferença entre os horizontes. Apresentam horizonte B de cor avermelhada até amarelada e teores de óxidos de ferro inferiores a 15%. Podem ser eutróficos, distróficos ou álicos. Têm profundidade variada e ampla variabilidade de classes texturais; os Luvissolos são solos com argila de atividade alta, praticamente neutros, com soma de bases alta e hipereutróficos, apresentando como principais limitações ao uso agrícola o relevo ondulado e a rochosidade (EMBRAPA, 2006).
O conhecimento do local de ocorrência dos diversos tipos de solos é importante, na medida que apresenta utilidade ao contexto social e econômico, estando inter-relacionado aos demais recursos físicos ou quando integrado a um levantamento de recursos naturais. No Ceará, de uma forma geral os solos apresentam-se com pouca profundidade, deficiências hídricas, pedregosidade e, principalmente, susceptibilidade a erosão, em virtude de suas características morfológicas, físicas e químicas, o que exige a prática de ações conservacionistas para melhor aproveitamento de suas potencialidades.
A cobertura vegetal é o recurso natural mais sensível que permite retratar, de modo integrado através de sua fisionomia, os fatores ambientais aos quais está submetida. A cobertura vegetal do Estado do Ceará pode ser dividida, para fins utilitários, em onze tipos de vegetação: Complexo Vegetacional da Zona Litorânea; Floresta Subperenifólia Tropical Plúvio-Nebular (Matas úmidas); Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial (Matas secas); Floresta Caducifólia Espinhosa (Caatinga arbórea); Caatinga Arbustiva Densa; Caatinga Arbustiva Aberta; Carrasco; Floresta Perenifólia Paludosa Marítima; Floresta Mista Dicótilo-Palmácea (Mata ciliar com carnaúba e dicotiledôneas); Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa (Cerradão) e Cerrado. Vale salientar que o tipo de vegetação de maior ocorrência no Estado é a Caatinga, ocupando cerca de 46% do território cearense.
A caatinga, termo indígena consagrado na literatura e no meio popular para designar a vegetação xerófila que ocorre no domínio semiárido, apresenta-se com várias fisionomias. Árvores altas, chegando a 20 (vinte) metros, caules retilíneos e um sub-bosque constituído por árvores menores, arbustos e subarbustos efêmeros. As copas das árvores se tocam, resultando numa fisionomia florestal por ocasião do período favorável às plantas, que no semiárido é o período das chuvas. O dossel contínuo, o porte e o sub-bosque fechado levaram à denominação dessa comunidade, Caatinga Arbórea Densa, constituídas primordialmente por Braúna (Schinopsis brasiliensis) e Aroeira (Astronium urundeuva). Em especial, a Braúna é uma espécie cuja faixa de tolerância ecológica não permite sua dispersão em locais onde as condições ambientais no semiárido se tornam mais severas. Outro tipo de caatinga arbórea é constituído por indivíduos altaneiros, isolados, de copas largas, com a mesma altura das árvores da comunidade anterior; no entanto, formam uma vegetação aberta em que amplos espaços de solo descobertos ou apenas com plantas herbáceas são encontradas. As espécies principais são: Angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa) e Aroeira (Astronium urundeuva). A fisionomia dessa comunidade é diferenciada da anterior pela baixa densidade vegetal, atribuindo-se à denominação de Caatinga Arbórea Aberta. A degradação da Caatinga Arbórea determina o aparecimento da Caatinga Arbustiva. Tal degradação, acelerada pelo Homem, tem origem nos processos globais de degradação ambiental favorecidos pelos períodos críticos de semiaridez acentuada. As espécies, cujas faixas de amplitude permitem, sobrevivem em tais ambientes degradados e outras tantas, resultantes de novas especiações ao longo do tempo geológico, constituem hoje a comunidade da Caatinga Arbustiva. O porte mais baixo e os caules retorcidos e esbranquiçados caracterizam a Caatinga Arbustiva. Da mesma forma que ocorre na Caatinga Arbórea, também aqui é a densidade maior ou menor dos indivíduos componentes da comunidade que lhe empresta a fisionomia denominada de Caatinga Arbustiva Densa e Caatinga Arbustiva Aberta. No entanto, o porte e a diversidade das espécies vegetais são significativamente menores. As Caatingas, com suas diversidades de fisionomia e seleção da flora, formam diferentes tipos referenciados por vários nomes populares. Quatro tipos foram sumariamente descritos aqui, entre muitos outros que ocorrem. As espécies mais frequentes nas Caatingas Arbustivas são: jurema (Mimosa hostile), catingueira (Caesalpina bracteosa), sabiá (Mimosa caesalpinifolia), marmeleiro-preto (Cróton sonderianus), mandacaru (Cereus jamacaru) e entre outras (IPLANCE, 1995).
De uma maneira geral, a vegetação primitiva encontra-se bastante alterada como fruto de uma ação antrópica desordenada e predatória. O mapa das Unidades Fitoecológicas apresenta a área de ocorrência dos diversos tipos de vegetação encontradas no Ceará.
A circulação geral da atmosfera é um dos fatores de relevante importância na diferenciação climática existente na superfície terrestre, sendo que seu estudo envolve o conhecimento de todos os elementos e fenômenos atmosféricos de maneira inter-relacionada. Nesse sentido, o clima predominante no Estado é o tropical quente semiárido, ocorrendo em uma extensão de 101.001 km², ou seja, cerca de 68% da área total do Estado. Cita-se ainda que o clima tropical quente semiárido ocorre em 98 municípios cearenses em sua totalidade, mas em virtude das vicissitudes climáticas e pelas áreas de influência, o Estado do Ceará possui 150 municípios inseridos no contexto semiárido brasileiro.
O Estado é composto por 12 bacias hidrográficas, sendo as mesmas formadas pelos rios Acaraú, Aracatiaçu, Banabuiú, Coreaú, Curu, Jaguaribe, Parnaíba, Salgado, Cocó e Ceará, além de pequenos rios e riachos. Destaca-se a importância do Rio Jaguaribe em relação ao suprimento de água para a população cearense, dado que as três bacias que tem como tronco o citado rio, respondem por aproximadamente 54% da capacidade de armazenagem de água do Estado do Ceará, algo em torno de 9,4 bilhões m³. Neste contexto, também merece destaque o Açude Castanhão, localizado na bacia do Médio Jaguaribe, que com sua capacidade em torno de 6,8 bilhões m³ responde sozinho por cerca de 39% da capacidade de armazenagem de água do Estado.
A degradação ambiental e a ocupação desordenada dos mais diferentes ecossistemas do Ceará são fatos efetivamente potencializadores para materializar as áreas degradadas susceptíveis ao processo de desertificação. Os desequilíbrios ambientais têm marcado profundamente as características originais dos ecossistemas no Estado do Ceará, conforme pode ser visualizado no mapa que representa essa categoria.
Apresenta-se na forma de mapa temático as áreas de conservação no Estado do Ceará, estando às mesmas divididas em unidades de conservação estadual, unidades de conservação federal, reserva ecológica, reserva particular do patrimônio natural e unidades de conservações municipais. As Unidades de Conservação - UC no Estado do Ceará em 2010 corresponderam a um total de 70 unidades, divididas entre as diversas UC’s dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, de acordo com a Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000.
Finalmente, cita-se que os mapas temáticos elaborados possibilitam ter-se uma visão geral em relação aspectos físicos do Estado do Ceará.
Referências Bibliográficas
CEARÁ, Governo do Estado do. Diagnóstico e Macrozoneamento Ambiental do Estado do Ceará: Diagnóstico Geoambiental. v.1. Fortaleza: Convênio FCPC/Semace, 1998.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro, 2006. 306 p.
FUNCEME. Compartimentação Geoambiental do Estado do Ceará. Fortaleza, 2009. 37 p.
IPLANCE. Atlas do Ceará. Fortaleza, 1995. 64 p.